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O lean manufacturing (LM) ou produção enxuta teve seu início no Japão em 1930 com Sakachi Toyoda, com o objetivo de reduzir desperdícios.

 

A expressão produção enxuta (definida pelo pesquisador do IMVP John Krafcik), é ?enxuta? por utilizar menores quantidades de tudo em comparação com a produção em massa: metade do esforço dos operários na fábrica, metade do espaço para fabricação, metade do investimento em ferramentas, metade das horas de planejamento para desenvolver novos produtos em metade do tempo, requer também bem menos de metade dos estoques atuais no local de fabricação, além de resultar em bem menos defeitos e produzir uma maior e sempre crescente variedade de produtos.

 

A Toyota hoje é mundialmente reconhecida como o berço do LM (Worlev, 2004), embora o LM tenha recebido a contribuição de alguns pensadores ao longo dos anos, conforme apresentado por SILVA e PEREGO (2018).

 

A crise do petróleo no outono de 1973, seguida de recessão, afetou governos, empresas e sociedades no mundo inteiro. Em 1974, a economia japonesa havia caído para um nível de crescimento zero e muitas empresas estavam com problemas. Mas a Toyota Motor Company, embora os lucros tenham diminuído, ganhos maiores do que os de outras empresas foram mantidos em 1975, 1976 e 1977. A diferença cada vez maior entre ela e outras companhias fez com que as pessoas as perguntassem sobre o que estaria acontecendo na Toyota.

 

Na Toyota, como em todas as indústrias manufatureiras, o lucro só pode ser obtido através da redução de custos. Quando aplicamos o princípio de custos: Preço de Venda = Lucro + Custo Real, fazemos o consumidor responsável por todo o custo.

 

A redução de custos deve ser o objetivo dos fabricantes de bens de consumo que buscam sobreviver no mercado atual. Mas, segundo Ohno (1997) não existe um método mágico. Ao invés disso, é necessário um sistema de gestão total que desenvolva a habilidade humana até sua mais plena capacidade, a fim de melhor realçar a criatividade e a operosidade, para utilizar bem instalações e máquinas, e eliminar todos os desperdícios. O Sistema Toyota de Produção (STP) surgiu por plena necessidade, havia escassez de tudo, desde matérias-primas até peças, não podiam conseguir as coisas na quantidade ou no momento necessário, seus fornecedores também estavam mal de equipamentos e de mão-de-obra.

 

A reorganização das máquinas no chão-de-fábrica para estabelecer um fluxo de produção eliminou o desperdício de estocar peças, ela também auxiliou para atingir o sistema (um operador, muitos processos) e aumentou a eficiência da produção em duas e três vezes.

As unidades da Toyota trabalhavam de forma completamente diferentes entre si, mas a filosofia de produção era exatamente a mesma: eliminar desperdícios.

 

O LM, portanto, baseia-se na premissa de produzir mais com os mesmos recursos, por meio de processos de melhoria que visam à eliminação de desperdício com o envolvimento da cultura organizacional da empresa, utilizando técnicas baseadas em autonomação (automação com intervenção humana), lotes pequenos, 5S, layout celular, no conceito de operário multifuncional, no sistema de produção puxada - kanban, como emissão de ordens, e na década de 1990 o STP incorporou conceitos de reengenharia de processos e novas técnicas para viabilizar processos de implantação em curto prazo.

 

Os benefícios do LM não se dão apenas pela redução dos desperdícios, mas também a redução de qualquer atividade que não agregue valor, evoluções de qualidade (enquanto os custos com qualidade diminuem), agilidade organizacional aprimorada e lead times de produção reduzidos. Princípios do LM podem ser aplicados universalmente nas empresas. Em contexto contemporâneo a produção enxuta evoluiu para um campo mais abrangente de implementação e denominou-se gestão enxuta.

 

Os princípios da filosofia LM são descritas a seguir: Trabalho em equipe e contribuição para o desenvolvimento e bem-estar do país; Usar de pesquisa e criatividade para estar sempre à frente do seu tempo; Ser sempre sincero e forte; Ser gentil e generoso, a fim de formar uma atmosfera agradável; Fazer uso do respeito, gratidão e satisfação (SILVA e PEREGO, 2018).

 

Para Kodali (2009) a manufatura enxuta chamou a atenção de organizações em todo o mundo, independentemente de seu setor de atuação, e sua implementação tornou-se uma necessidade entre as empresas que desejam atuar em um mercado global. Embora seus benefícios sejam inegavelmente reconhecidos, muitas empresas ainda não têm recorrido às implementações de seus princípios e filosofias.

 

IMPLEMENTAÇÃO DE FILOSOFIAS (FERRAMENTAS E TÉCNICAS) LEAN MANUFACTURING

 

Inúmeras práticas enxutas são apresentadas na literatura, nota-se que não há uma fórmula universalmente aplicável. Portanto, é importante contemplar que práticas de princípios LM podem ser implantadas com sucesso em qualquer tipo empresa, não importando seu tamanho ou negócio. Cada organização deve encontrar a combinação ideal que possa ser adaptada às suas características. A Toyota acredita que as práticas são uma resposta específica a um problema.

 

A implantação de uma estratégia de LM retrata uma contribuição robusta para a sequência de etapas que conduz à excelência operacional e à melhoria contínua através da eliminação de atividades sem valor agregado. No entanto, as práticas enxutas contribuem substancialmente para o desempenho operacional da organização.

 

Algumas das práticas de manufatura enxuta mais dominantes incluem kanban, eventos kaizen, fluxo contínuo, redução de estoque, trocas rápidas, redução de tempo de ciclo, prova de erros e Value Stream Mapping - Mapeamento do Fluxo do Valor (VSM).

 

Agumas práticas enxutas podem ser implementadas independentemente do porte da empresa, mas algumas se associam ao tamanho da empresa e podem ser mais difíceis de serem implementadas em PMEs. Segundo o mesmo autor, as melhores práticas para PMEs são: redução do tempo de setup, Kanban, redução do tamanho de lote, gestão de fornecedores, manutenção preventiva, funcionários multifuncionais, carga de trabalho uniforme, controle visual, envolvimento dos funcionários (círculos de qualidade), gestão da qualidade total, treinamento, trabalho em equipe, melhoria contínua da produção, 5S e padronização.

 

Munteanu e ?tef?nig? (2018) comenta em seu artigo que a ideia universalmente aceita na literatura, é que a implementação enxuta envolve dois conceitos básicos: eliminar desperdício e criar valor, e apresenta cinco passos importantes:

 

? Especificação de valor (quais combinações de recursos, capacidade, disponibilidade e preço serão preferidos pelos clientes?);

? Análise do fluxo de valor (o conjunto de processos e atividades necessárias para levar um produto ao cliente, do começo ao fim);

? Fluxo contínuo (procurar fazer com que o valor flua continuamente, ao invés de lotes);

? Melhoria contínua (convicção de que os esforços de melhoria nunca são concluídos e consistência para manter a disciplina para melhoria do local - kaizen);

? O cliente puxar (não empurrar os produtos para os clientes, e sim deixá-los puxar "valor", produtos ou serviços e vincular toda a cadeia produtiva de forma que os materiais não sejam liberados e as atividades não sejam realizadas até que sejam necessárias).

 

Passos importantes para implementação de LM são:

? Planejar a mudança (definição de necessidades de mudança, compromisso e suporte da alta gerência, identificação de áreas-alvo, linhas de modelos e estratégia de desenvolvimento);

? Implementação (eliminação de desperdícios, melhoria contínua, fluxo contínuo e sistemas puxados, equipes multifuncionais, sistemas de informação);

? Mensurar o progresso;

? Objetivo das métricas (monitorar a evolução da implementação, monitoramento contínuo, avaliações comparativas).

 

Embora o LM apresente elevada e positiva prevalência na indústria, com abundantes casos de implementações bem-sucedidas registradas na literatura (Hines et. al, 2008; Crute et. al, 2003; Womack e Jones, 2003), alguns fatores podem limitar o sucesso de uma implementação:

? Extensos portfólios de produtos representam que cada ?tarefa? provavelmente seja diferente, inviabilizando padronizações;

? Certas características de produtos criam restrições de produção;

? PMEs simplesmente não conseguem igualar o domínio ou os recursos que as empresas maiores desfrutam, permitindo que sejam inflexíveis ao longo de suas cadeias de suprimento.

 

Outros fatores detectados como possíveis obstáculos em implementações de práticas LM em PMEs:

 

? Falta de familiarização com o LM;

? ?Não é para nós? - conceito de LM mal compreendido;

? Limitações de recursos;

? Resistência do pessoal (cultura);

? Implementação sem adaptá-lo a um cenário específico da empresa.

 

A relevância do compromisso da gestão para produção enxuta é altamente salientada na literatura, a continuidade da mudança depende de alguém adequadamente posicionado com um compromisso de mudança e com comportamentos compatíveis com a mudança.

 

As PMEs que implementam com sucesso o LM normalmente possuem uma estrutura plana e sistemas simplificados, promovendo flexibilidade para mudanças e disseminação de conhecimento. Por outro lado, as que fracassam normalmente possuem limitações de recursos, em especial recursos de capital e humano.

 

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REFERÊNCIA

Livro: EVOLUÇÃO DE MATURIDADE EM GESTÃO DE PRODUTIVIDADE E RESULTADOS: Um estudo de caso prático em indústria Brasileira de médio porte do setor plástico. (2019). Editora: Novas Edições Acadêmicas. Autor: Bruno Estéfan Perego.